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60 ANOS DA LEGALIDADE
“Como na Legalidade, democracia está em risco”, diz Jair Krischke em painel sobre contexto político
Francis Maia - MTE 5130 - 12:00 - 03/09/2021 - Foto: Guerreiro
No último painel do seminário promovido pela Assembleia Legislativa para registrar os 60 anos do Movimento da Legalidade, o ativista em direitos humanos Jair Krischke foi categórico em vincular os ataques à democracia promovidos na atualidade aos fatos que em 1961 desencadearam a resistência gaúcha, liderada por Leonel Brizola na defesa da Constituição e da posse do vice-presidente João Goulart, logo após a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto. "Como naquela época, militares operam em ações que ferem a democracia brasileira", afirmou o ativista que, durante a ditadura militar, desvendou o sequestro de dois uruguaios em Porto Alegre pelo aparato estatal. 

A deputada Juliana Brizola (PDT) e o ativista político Christopher Goulart, ambos netos, respectivamente, de Leonel Brizola e João Goulart, foram os mediadores do painel, realizado na noite desta quinta-feira (2) no Memorial do Legislativo, a antiga sede da Assembleia. 

Assembleia lança publicação eletrônica em comemoração à data
Em participação por videoconferência, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Gabriel Souza (MDB), transmitiu mensagem aos painelistas e participantes do Seminário. Ele anunciou o lançamento de livro eletrônico em comemoração à data dos 60 anos, com relato detalhado dos acontecimentos e a reprodução dos discursos parlamentares da sessão permanente, evidenciando a importância da Assembleia na defesa da democracia no Brasil. “O tema é cada vez mais atual. Os tempos mudaram, mas as premissas são as mesmas. A Assembleia defende a democracia, a Constituição e principalmente o estado democrático de direito”, assegurou. 
 
A publicação “Vigília Democrática – 18 dias de Sessão Permanente” está disponível para download no site do Memorial do Legislativo.


Testemunha da história
Como testemunha da história, Jair Krischke disse que “a Legalidade dos anos 60 não terminou, é só olhar o cenário brasileiro”. Ele incluiu os episódios daquele período no que avaliou como "uma série sequencial que se repete na história do país, sempre com o sentido de ameaçar e ferir a democracia e suas instituições." 

Sobre a Legalidade, descreveu uma trama montada por militares para tentar o golpe, fracassado pela resistência do movimento, mas continuado em ações como a aprovação da emenda parlamentarista, para impedir que João Goulart assumisse com a plenitude o cargo presidencial, artifício que teve em Tancredo Neves um fiel escudeiro. "O próprio Tancredo foi eleito de forma indireta, quase três décadas mais tarde, quando a Campanha das Diretas Já também foi alvo das estratégias golpistas dos militares brasileiros", lembrou. 

Krischke disse que documentos da Fundação Getúlio Vargas ilustram e comprovam os movimentos da elite militar, como Golbery do Couto e Silva e Ernesto Geisel, contra a democracia brasileira. "Divulgam ameaças de que a posse de Jango implantaria o comunismo no país e, por isso, sugerem a mudança para o parlamentarismo." Lembrou do período de governo de Getúlio Vargas, com a fúria militar contra o então ministro do Trabalho, o próprio João Goulart, quando foi anunciado o aumento de 100% do salário mínimo. Jango acabou afastado do cargo. 

Diferentemente de outros países da América Latina, a passagem do Brasil da ditadura para a democracia foi classificada por Krischke como “uma transação, acordo que deveria consagrar a impunidade dos autores de crimes de lesa-humanidade, culminou com a Lei de Anistia, que é de autoanistia e garantiu a impunidade”. "Os atuais solavancos evidenciam uma democracia que não se consolida", afirmou. 

Ele também referiu a bravura de personagens como o capitão Alfredo Daudt, do Esquadrão do Grupo de Caças da Base Aérea de Canoas, responsável, com um grupo de sargentos, de impedir o bombardeio do Palácio Piratini, prometido pelos militares. E a extraordinária mobilização popular liderada por Brizola pelos microfones da Rádio Guaíba instalados nos porões do Palácio Piratini. "Quando o governador anunciou pela Cadeia da Legalidade a ameaça de bombardeio, em torno de cinco mil pessoas lotavam a Praça da Matriz, e em pouco tempo mais de 50 mil se deslocaram de toda a cidade e do interior para aderir à resistência e defender a integridade democrática", lembrou Jair, que também estava lá. “Brizola inaugurou nas ondas de rádio o que hoje se chama redes sociais”, comparou. 

Mediadores
A deputada Juliana Brizola, líder da bancada do PDT na Assembleia, em participação virtual, elogiou a iniciativa do Parlamento em registrar as seis décadas do episódio liderado por seu avô, mas lamentou que o governo do Estado tenha ignorado a data, mesmo tendo sido o Palácio Piratini o palco de 13 dias que colocaram o Rio Grande do Sul no protagonismo da política brasileira em defesa da democracia. Ela também concorda que “a falta da justiça de transição, essa anistia ampla e irrestrita que foi negociada e que nos transformou em analfabetos sobre todo o processo, tudo está refletido nestas instabilidades”. 

Agradeceu, ainda, as referências a seu avô Alfredo Daudt, que padeceu a perseguição política e foi dado como morto, tendo que fugir para sobreviver. Sobre Brizola, disse que amargou o mais longo exílio das lideranças da época - permaneceu 15 anos fora do país - e, ao retornar, adotou moderação sobre a Legalidade. Na avaliação de Juliana, com o objetivo de alcançar a ocupação dos espaços políticos na redemocratização. “Acredito que foi um equívoco dele, deveria ter colocado o dedo na ferida. Mas tinha seus motivos”, ponderou.

Christopher Goulart, que é suplente de senador pelo PDT, disse que registrar os feitos na Legalidade não é saudosismo, mas a exposição de um modelo de nação, com respeito ao estado democrático de direito, como os exemplos deixados por Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola. 

Depoimento de Pedro Simon
Também o ex-governador e ex-senador Pedro Simon (MDB), encaminhou vídeo em que destacou a inegável liderança do então governador Leonel Brizola na construção dos apoios e mobilização popular que fizeram do Movimento da Legalidade a resistência ao golpe que estava em curso na época. Ele destacou ações legislativas obscuras, como a decretação de vacância da presidência da República pelo Senado Federal em sessão chamadas às pressas, sem quórum e sem convocação, para legitimar o presidente da Câmara dos Deputados no cargo. Esse ato, disse Pedro Simon, teve moção de sua autoria decretando a falsidade daquela sessão e solicitando a sua anulação, “em termos históricos, não teve validade”, afirmou. 

O presidente do Instituto Histórico e Geográfico do RS, Miguel Espírito Santo, acompanhou no Memorial o último painel do Seminário. Nos dois debates anteriores realizados durante a semana para registrar os 60 anos do Movimento da Legalidade, painelistas analisaram o tema do ponto de vista histórico e jornalístico. 
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